O banco projeta que a Selic fechará o ano em 5%. O banco estima, em sequências, elevações de 0,75 ponto percentual, de 0,50 ponto e 0,25 ponto ao longo das próximas reuniões do Copom, com uma pausa para observação em setembro.
A leitura acima das expectativas do PIB do primeiro trimestre não muda o quadro de ajuste parcial da taxa Selic que vem sendo mantido pelo Banco Central e foi reforçado na ata da última reunião do Copom, avalia Daniel Xavier, economista-sênior do ABC Brasil.
“Entendo que exista, sim, um viés na direção de que o BC terá que retirar os estímulos mais rapidamente após o PIB. Mas os membros do BC têm dito e reiterado que esperam uma dinâmica mais positiva para a atividade, inclusive tendo mostrado já há algum tempo uma projeção para PIB acima da do mercado”, nota Xavier.
“Então, não me parece haver um grande sinal de mudança e política monetária vindo daí, tanto que as menções ao ajuste parcial continuaram sendo repetidas, como foi na ata, e, mais recentemente, os indicadores fiscais têm sido melhores do que o esperado”, explica.
Para o profissional, há dois vetores da economia brasileira atuando em direções opostas quando se trata de ajustar a política monetária. Enquanto as expectativas de uma atividade mais robusta dão um viés de alta para a Selic, antecipando o fechamento do hiato do produto, a melhora da situação fiscal favorece um dólar menor e uma inflação menos pressionada relacionada a commodities, o que consequentemente não exigiria um ajuste tão drástico do juro.
Atualmente, o ABC Brasil projeta que a Selic fechará o ano em 5%. O banco estima, em sequências, elevações de 0,75 ponto percentual, de 0,50 ponto e 0,25 ponto ao longo das próximas reuniões do Copom, com uma pausa para observação em setembro.
O cenário da instituição considera que o IPCA terá uma desaceleração ao longo do segundo semestre do ano, fechando a 5,4%, à medida que os preços de commodities se acomodarem e a taxa de câmbio se estabilizar em menores níveis, em meio à retirada de prêmio de risco relacionado à questão fiscal.
Dado os patamares menores do câmbio, o Brasil também terá uma inflação importada de commodities “mais comportada”. “E os núcleos de inflação também terão esse mesmo movimento, exibindo uma pressão menor”, afirma.
“Então, no líquido, não vejo a projeção de inflação do BC para 2022 se alterando de forma substancial. Talvez saia de 3,4% para 3,5%, no máximo, mas não vejo que isso altere de forma relevante o guidance deles de promover uma normalização parcial”, prossegue Xavier.
A respeito da crise hídrica e seus impactos na atividade, o economista aponta que tanto a indústria perdeu participação no PIB como a hidroeletricidade tem hoje menos espaço na oferta total de energia elétrica do que tinha antes.
“Desde o início dos anos 2000, a indústria e a hidroeletricidade perderam certo peso na realidade econômica e energética brasileira. Por isso, avalio que os impactos de uma crise hídrica no PIB seriam, hoje, bem menores do que poderiam ser em outros tempos, como foi em 2001, mesmo se tivéssemos um caso extremo”, afirma.
“Além disso, esse caso extremo, de racionamento de água, é visto como improvável pelos especialistas. Acho que o que deve ocorrer será uma medida restritiva via aumento de preços, que era um sistema que não se tinha há 20 anos, quando do apagão”, continua ele. Hoje, o ABC Brasil projeta um PIB de 5,2%, ante a previsão anterior de 4,8%, levando em conta o dado surpreendente de hoje.
Na projeção de IPCA para este ano, Xavier inclui a perspectiva de que a bandeira vermelha patamar 1 deverá retornar no fim do ano, prosseguindo, até lá, a cobrança mais elevada do sistema elétrico nacional, da bandeira vermelha 2. Caso a bandeira vermelha 2 seja prorrogada, a adição ao IPCA é de 0,2 ponto percentual — ou seja, a taxa de inflação projetada pelo ABC Brasil iria a 5,6%.
“Óbvio que isso é um impacto moderado, poderia ser acima disso considerando o efeito sobre os preços agrícolas”, diz Xavier. Ele cita que os preços de alimentos in natura poderiam ficar pressionados, caso haja restrição na oferta de água em centros urbanos, que afetaria a produção de hortifrutigranjeiros. “Ou seja, nesse caso, haveria um impacto tanto no valor da conta de luz como nessa parte do setor agrícola, visível nos in natura”, afirmou ele.
(Com conteúdo publicado originalmente no Valor PRO, o serviço de notícias em tempo real do Valor)
Imagem: Getty Images
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