Recentemente, estive jogando um jogo sobre construções de infraestrutura que me fez refletir bastante sobre os motores do desenvolvimento das economias. Durante o jogo, testei diversos meios de transporte de carga e de pessoas, que se mostraram eficientes, mas não em diversas situações e, por se tratar de um jogo de simulação, consegui ver os sistemas mais eficientes que havia criado refletindo no crescimento das cidades. Isso me fez refletir: o que fez com que os diversos países, ao longo do globo, conseguissem se desenvolver?
Na maior parte do milénio passado, vimos como principal desenvolvedor das grandes cidades os portos, principalmente os costeiros. Aqueles que conseguissem dominar a navegação, conseguindo atingir a maior distância possível e transportar a maior quantidade de carga, além do tráfico de pessoas, conquistavam diversas riquezas através do comercio e mantinham as cidades bem abastecidas e cheias de produtos. Com o decorrer do tempo, conseguimos ver a importância disso acompanhando as nações, como por exemplo, Portugal. Uma nação que não era grande em território e nem militarmente, se tornar uma das maiores colonizadoras e transportadoras do mundo.
No decorrer do período das colonizações, vimos as cidades costeiras sendo as mais relevantes no crescimento dos países do novo mundo, entre eles, o Brasil, que teve sua capital litorânea até metade do século XX.
Com o passar dos anos, tivemos o desenvolvimento de um outro meio de locomoção que revolucionou outra parte do continente, a criação das locomotivas.
Com a indisponibilidade de meios hídricos para alcançar todos os cantos do continente, as ferrovias conseguiram ligar o interior pouco desenvolvido com o litoral. Fazendo com que as áreas mais afastadas conseguissem desenvolver sua produção agrícola e industrial, enquanto os portos faziam o escoamento e o comércio com todo o globo.
Esse foi o principal meio para o crescimento dos Estados Unidos da América. Com a corrida para o Oeste, gerou desenvolvimento suficiente para que conseguissem ligar, de forma eficiente, os dois oceanos. Nesse meio tempo, tivemos a tentativa de ligar por ferrovias o Brasil, porém, devido a fatores políticos, não somente não conseguimos desenvolver o suficiente a ferrovia brasileira, como alguns projetos foram sabotados internamente pelo governo.
Posteriormente, tivemos duas inovações que revolucionariam a agilidade do transporte, porém, se provariam pouco eficientes no longo prazo.
O surgimento da aviação fez com que transportes que antes, levariam dias, fossem concluídos em poucas horas. Hoje, com seu desenvolvimento, conseguimos chegar ao outro lado do globo, praticamente em um único dia. Porém, seu alto custo e sua baixa capacidade, se mostrou ineficiência para transportar diversos tipos de cargas, que ainda dependem de transporte marítimo ou ferroviário.
O automóvel também revolucionou a forma com que nos locomovemos. Possuindo um transporte pessoal, muito mais eficiente que as carroças disponíveis anteriormente, as cidades conseguiram se desenvolver horizontalmente de forma muito mais rápida e as viagens entre cidades não demorariam diversas horas ou até mesmo dias. Porém, o transporte se mostrou igualmente ineficiente na movimentação de carga, necessitando de mais mão de obra e manutenção, além de concorrer fortemente com o transporte de passageiros. Apesar de mais simples de serem implementadas, as cargas têm o custo de frete muito mais alto.
No Brasil tentamos gerar desenvolvimento de infraestrutura através das rodovias, porém, dado aos fatos acima, vimos que a ineficiência desse sistema virou de um motor de desenvolvimento para um entrave, dado as complicações de manutenção das estradas e afins.
Dificilmente, o Brasil se desenvolverá se manter o enfoque único e exclusivamente nos meios rodoviários. Porém, somente o tempo e a política dirão se conseguiremos ser bem-sucedidos no futuro.
Marcello Corsi Janota de Carvalho – Economista e Operador da Mesa de Renda Variável
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Imagem: BBC News Brasil